Adriano Duarte
Parece absurdo recrutar menores de idade para a função de vigilantes, mas isso ocorre em Caxias do Sul. O negócio é tão escancarado que a reportagem chegou a flagrar adolescentes como guardas noturnos, atividade perigosa que se enquadra na lista das piores formas de trabalho, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
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O emprego de jovens é facilitado pela expansão da segurança privada ilegal, cuja atividade não é fiscalizada e atrai clientes por conta dos preços baixos. O Pioneiro identificou a atuação de rapazes durante a madrugada em bairros da Zona Norte de Caxias do Sul, mas o trabalho da garotada se estenderia a outras comunidades, conforme denúncias.
Em ocasiões diferentes, a reportagem conversou com dois adolescentes de prontidão em frente a mercados. O trabalho dos guardas mirins, a serviço de uma empresa informal de vigilância, começava por volta das 22h30min e avançava até o final da noite.
Para não levantar suspeitas sobre a atividade irregular, eles foram orientados a mentir sobre a idade, caso de um rapaz abordado pelo Pioneiro. Ele respondia pela segurança de um mercado. O posto de trabalho era uma calçada com pouca iluminação nos fundos do depósito do estabelecimento. Questionado sobre a atividade ao relento, se resignou a comentar que não havia alternativa e precisava enfrentar a jornada pelo salário. Relevou o risco de exercer tal função.
- Já tenho 18 anos sim e aqui não tem ladrão - disse o jovem.
Uma rápida pesquisa no dia seguinte, porém, constatou que o guarda mirim tinha 17 anos e havia abandonado a Educação de Jovens e Adultos (EJA) meses antes. Ele também não tinha vínculo empregatício formalizado com o mercado, mas ostentava a ligação com uma empresa de segurança, conforme constava no perfil em rede social. Na mesma noite, o Pioneiro flagrou outro adolescente zelando por um mercado no Santa Fé.
Dias depois, a reportagem retornou aos pontos de vigilância e reencontrou apenas o primeiro rapaz. Apesar de ser quase 23h, ele negou estar trabalhando e desconfiou.
- Estou apenas esperando minha mãe, já saí da empresa de segurança - alegou.
Contudo, meia-hora depois, a reportagem flagrou o jovem ainda em frente ao mercado. Nas semanas seguintes, possivelmente alertada pelos rapazes, a empresa substituiu os adolescentes por adultos.
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