Nivaldo Pereira
Sem temor de navegar em águas densas, o signo de Escorpião cedo aprende que a verdade se oculta nas dobras misteriosas da alma. Ah, a coragem de descer ao inferno para chegar mais inteiro ao céu! Só para espíritos fortes. Imagine que matéria fantástica para a literatura é a experiência humana do Escorpião! Na obra máxima do escocês Robert Louis Stevenson (13/11/1850), O Médico e o Monstro, o nobre médico Dr. Jekyll, por meio de substâncias químicas, libera de dentro de si um duplo, o instintivo e amoral Mr. Hyde. Eis uma ilustração dos humanos desejos e compulsões que precisam ser integrados ou transmutados. Haveria um possível diabo em todo santo?
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Escorpiana demais é toda a produção do genial russo Fiodor Dostoievski (11/11/1821). No clássico Crime e Castigo, um estudante, depois de matar uma agiota que ele considerava desprezível para a sociedade, enfrenta um turbilhão psíquico de redentora revelação. Das sombras para a luz, ele é quem morre e renasce. Quais ferroadas incisivas são os romances do alagoano Graciliano Ramos (27/10/1892). Em Angústia, emoções primitivas dominam o narrador, e somos conduzidos a seu mundo interno febril e visceral. Um drama psicológico perfeito. Já em Vidas Secas e São Bernardo, a secura da realidade se reflete em personagens embrutecidos, num contexto de manipuladores e oprimidos. Crueza, poder e controle também são expressões concretas do signo.
E é de Escorpião nosso poeta soberano, Carlos Drummond de Andrade (31/10/1902). Sem lirismos ingênuos, ele traduziu o desencanto do sobrevivente homem moderno. Como nos versos de Consolo na Praia: "O primeiro amor passou./ O segundo amor passou./ O terceiro amor passou./ Mas o coração continua." É, Carlos, é preciso coração valente para os perigos do amor. E fiquemos com dois versos de Cecília Meireles (07/11/1901), do 4º Motivo da Rosa: "Não te aflijas com a pétala que voa: / também é ser, deixar de ser assim."
Quem acha que morrer é o fim de tudo, não sabe nada da vida, não é, cara poeta escorpiana?
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