André Tajes
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Em geral, o ônibus é maltratado por prefeitos e secretários de transportes no país. A opinião é do engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes (USP) Horácio Augusto Figueira. Com experiência em pesquisas em transporte de pessoas e segurança no trânsito com prioridade para o pedestre e sócio-proprietário do escritório Hora H Pesquisa, Engenharia & Marketing, o especialista explica em detalhes o que um plano de mobilidade sustentável de uma cidade deve observar.
Pioneiro: O que um projeto de mobilidade ideal deve contemplar?
Horácio Augusto Figueira: Primeiro lugar, deve se estabelecer uma hierarquia da cidade. Nos últimos 60 anos, o “deus automóvel” imperou em todas as cabeças. Somos educados erradamente. Compramos o modelo americano e o automóvel veio para resolver o problema do planeta. Agora a gente está vendo que não resolveu e não vai resolver. Eles (veículos) continuarão ocupando grandes espaços em todas as vias, sejam elas urbanas ou rodoviárias. Na prática, o que a gente tem visto nas cidades do Brasil é mais espaço para o automóvel. Alargam ruas e avenidas, fazem viadutos, túneis, estreitam as calçadas, deixam os tempos mínimos nas sinaleiras para os pedestres atravessarem e os usuários de carros protestam quando se tenta colocar ciclovias ou ciclofaixas porque vão tirar o espaço que eles achavam que tinham por direito. Um plano de mobilidade sustentável, seja em Caxias do Sul ou qualquer cidade do Brasil, tem que seguir uma ordem de prioridade no uso do espaço viário. Em primeiro lugar, o pedestre. Não tem espaço? Se estreita a via e cria a calçada. Nas esquinas, tem que ter rampas de acessibilidade, semáforo para pedestre com tempo adequado para travessia e dane-se a fluidez veicular. Está na lei federal de mobilidade que a prioridade é o pedestre. Que cidade queremos? Uma cidade para carros ou para pessoas? A gente chegou ao planeta a pé e vai sair do planeta a pé. Depois, precisamos de faixas exclusivas para o transporte coletivo. Uma faixa de ônibus transporta mais pessoas que a faixa ao lado, congestionada de automóveis. O transporte coletivo por ônibus tem que ter total prioridade, seja faixa exclusiva à direita, tirando o estacionamento, que deve ser resolvido pela iniciativa privada. Nenhum órgão público tem que estar preocupado em resolver o problema da vaga para carro. Em terceiro lugar, coloco o transporte coletivo privado por ônibus (fretamento). Quando se proíbe uma linha de ônibus fretado com 40 passageiros, se quatro usuários migrarem para o automóvel já vão ocupar mais espaço que o ônibus que foi retirado (de circulação). Os ciclistas estão em quarto lugar, mas a bicicleta é um complemento. Aqui em São Paulo, já pode colocar (a bicicleta) no trem e vai poder entrar no ônibus. Como as viagens são muito longas se faz a integração embarcando com a bicicleta ou deixando em bicicletários. Depois, precisamos criar espaços regulamentados para que o transporte de cargas possa fazer o abastecimento da cidade. O táxi com passageiro é a sétima prioridade. Depois vem automóveis e utilitários com duas ou mais pessoas. Para cidades como Caxias, nas avenidas com três faixas por sentido, sugiro a criação da faixa solidária, onde qualquer veículo que estivesse com o condutor e o carona estaria autorizado a usar essa faixa. Depois vem os automóveis só com o condutor, as motos e os veículos em geral que fazem embarque e desembarque. A última prioridade no espaço viário são os veículos estacionados. Só posso permitir um veículo estacionado se não está atrapalhando mais ninguém.
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