Gilmar Marcílio
A tentação de perguntar é grande: será que, findo esse dramático período, nos tornaremos melhores ou agiremos como se nada tivesse acontecido? Muitos têm a percepção de que aprenderemos com a dor e isso provocará uma poderosa reflexão sobre os caminhos da humanidade. Infelizmente, apesar de respeitar quem se inclina a ver o lado bom, sinto-me desprovido dessa certeza apaziguante. Em recente entrevista, o escritor Ruy Castro disse que, passada a gripe espanhola de 1918, as pessoas se atiraram como loucas para aproveitar o que viesse. No carnaval do Rio, o desregramento foi quase uma ordem, sem pensar nas consequências. Os foliões indagavam, entre si: será que estarei vivo no ano que vem? Então, é conveniente agir como se não houvesse dia seguinte. Raramente nos distinguimos pela originalidade, e é bem provável que conduta equivalente se repetirá, mudando somente as personagens. Somos assim: animais que se orgulham da razão, mas que obedecem mais aos instintos.
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