Gustavo Brigatti
Pagar para ver o ídolo de longe ou pagar o dobro (ou mais) para ver de perto. É esse o dilema – simples em teoria, mas complexo na ponta do lápis – que o fã de música enfrenta desde o alvorecer das pistas VIPs. Em Porto Alegre, os seguidores de David Gilmour e Rolling Stones serão os próximos a segurar essa batata quente nos meses que se avizinham, quando os astros visitarão a capital gaúcha para megaconcertos que não fogem à regra.
No caso do ex-guitarrista do Pink Floyd, a presença da pista VIP (ou premium ou gold ou alguma-coisa zone) está garantida desde o início das vendas de ingressos, em setembro, e custa R$ 610 contra R$ 360 da pista normal. Mick Jagger e cia. ainda não divulgaram valores, mas, conforme informações preliminares, dificilmente abrirão mão do recurso, por mais controverso que seja. Que o digam os fãs do Pearl Jam.
No dia 11 de novembro, o grupo de Seattle se apresentou na Arena do Grêmio com uma das maiores pistas VIPs de que se tem notícia – do mesmo tamanho ou talvez maior do que a pista normal. A visibilidade de quem ficou atrás, que já era ruim, tornou-se ainda pior com a instalação de equipamentos de som (torres e house mix) na divisão entre os espaços.
Nos comentários da reportagem publicada no site de Zero Hora, muitos leitores se mostraram insatisfeitos. "Tem que acabar com essa falta de respeito chamada pista premium. Eu entendo a existência dela por uma simples questão de faturamento, mas para o fã é horrível. Tu fica refém de pagar o dobro ou senão não vai ver muita coisa", escreveu um internauta. "O que mata, além do preço das bebidas, é essa ideia de transformar um show de rock em algo tipo o Coliseu. Tem o lugar dos imperadores, dos senadores e da plebe. Palhaçada!", opinou outro.
Situações semelhantes foram relatadas no espetáculo do Foo Fighters, no estacionamento da Fiergs, e no show coletivo Monsters Tour, no Estádio do Zequinha – que teve não uma, mas duas pistas VIPs. Mesmo assim, é uma situação que não deve mudar, como explica Fábio Nunes, produtor de eventos que organiza excursões e acompanha o mercado gaúcho. Segundo ele, a existência de um espaço mais caro é o que justifica a existência de espaços mais baratos.
Lei da meia-entrada fará com que todos paguem mais, dizem produtoras
– A lógica é simples: poucos precisam pagar muito para que muitos possam pagar pouco. Quem garante que o sujeito da pista normal pague o valor que ele paga é o sujeito da pista premium, que está pagando mais – explica. – Se um produtor de shows decidir colocar um valor único de ingresso para um evento de grande porte, esse valor invariavelmente será alto o suficiente para espantar o público e ele ter um baita prejuízo.
Mas a pista VIP não é (com o perdão do trocadilho) exclusividade de bandas que tocam em grandes arenas. Mesmo grupos que se apresentam em casas menores e planejadas para abrigar apresentações musicais, como teatros e casas de espetáculos, também lançam mão do recurso.
– Pista VIP é o que faz o espetáculo acontecer – afirma Thedy Corrêa, vocalista do Nenhum de Nós. – É quando a pista VIP esgota que o show está finalmente pago. Entendo que, para a maioria do público, não é o ideal, mas, sem esse espaço, dificilmente conseguiríamos manter ingressos com valores praticáveis.
Mesmo que a pista VIP pareça inevitável, o diretor da Opus Promoções, Carlos Konrath, sugere bom senso na implantação das áreas VIPs. Segundo ele, entre 10% e 15% da capacidade de um espaço é o ideal para uma pista premium:
– Mais do que isso, a ideia de VIP perde o sentido e cria um problema, porque desrespeita o público e o coloca contra você.