Quatro meses após o início das investigações que apuram a morte de dois rapazes durante perseguição da Brigada Militar, uma das principais questões começa a ser elucidada. A polícia já sabe a procedência da arma encontrada no bagageiro da camionete Fiorino em que quatro jovens voltavam de uma festa: o registro da arma é do Rio Grande do Sul.
Até então, pairavam dúvidas sobre a origem do revólver Rossi calibre 38. A numeração da arma apreendida coincidia com dois registros no sistema de armas: um do Rio Grande do Sul e outro de fora do Estado, e um dos donos já teria morrido. Não havia ocorrência de furto, roubo ou perda.
O delegado Álvaro Becker mantém sigilo e não informa se já ouviu o proprietário da arma ou qual a cidade de procedência. Paralelamente, o Exército apura, com base nas guias de trânsito, como existem duas armas com a mesma numeração.
Resta à policia esclarecer como a arma foi parar dentro da Fiorino. A resposta a essa pergunta é essencial para descobrir se houver reação dos rapazes dentro da camionete ou se o revólver foi colocado no veículo de propósito. Há um mês, o laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) apontou resíduos de pólvora nas mãos de três dos quatro jovens que estavam na Fiorino perseguida pelos policiais.
O resultado indicou amostras compatíveis com disparos de arma de fogo nas mãos do motorista Tiago de Paula, 18 anos, e das vitimas fatais Anderson Styburski, 16 e Danúbio Cruz da Costa, 20, que estavam no bagageiro. Ainda assim, Tiago continua a negar o uso de arma de fogo pelo grupo, tese mantida pela defesa dele.
Outra importante perícia para a conclusão do caso ainda não foi feita pelo IGP. Ao Ministério Público, o órgão sinalizou que apenas na segunda quinzena de agosto será feito o exame de balística que concluirá se houve ou não disparo do revólver calibre 38 encontrado na Fiorino. O prazo expirou na última sexta-feira e foi prorrogado.
O promotor Eduardo Lumertz aguarda do IGP a resposta sobre a marcação da reconstituição do crime, solicitada no início do inquérito. O MP prorrogou também requisições à Brigada Militar e ao Departamento de Criminalística. Testemunhas ainda devem ser ouvidas pela Polícia Civil.
Por tudo isso, e considerando que, de posse de todas as perícias e diligências, a promotoria tem 15 dias para concluir a análise do inquérito, podendo prorrogar o prazo por mais 15, é provável que até o final de agosto o caso ainda siga em aberto até uma manifestação do Ministério Público.
No Tribunal de Justiça Militar, já tramita o Inquérito Policial Militar (IPM) que indiciou quatro policiais por envolvimento na perseguição que resultou na morte de dois rapazes no dia 16 de março, e que apontou os soldados Edegar Júnior Oliveira Rodrigues e Neilor dos Santos Lopes como responsáveis pelos tiros que mataram Anderson e Danúbio.
O IPM também responsabiliza o soldado Alexandre Schifeldein por ter agredido Tiago durante as buscas aos ocupantes da Fiorino e o sargento Lorival de Abreu Cardoso por não ter adotado providências para preservar a cena do crime.
Há 10 dias, o IPM foi encaminhado à promotoria que atua junto à Justiça Militar. De posse do inquérito, três encaminhamentos podem ser adotados pelo MP: fazer denúncia contra os policiais, enviá-lo à Justiça Comum caso constate que não é crime militar ou não oferecer denunciar e arquivar o processo. A promotoria tem 30 dias para a conclusão, podendo prorrogar o prazo por mais um mês.