Hoje em dia verão é praticamente sinônimo de praia. É lá que estão os maiores atrativos tanto para quem gosta de agito quanto para aqueles que preferem descansar.
Mas em uma época em que chegar ao litoral era considerado uma verdadeira aventura, a alternativa das famílias da capital gaúcha e região metropolitana era se refrescar subindo a Serra e desfrutando dos antigos veraneios, hotéis idealizados para a época mais quente do ano em meio ao verde com a finalidade de recarregar as energias longe das obrigações e do stress da cidade.
Veja fotos antigas e atuais do Desvio Blauth
É nesse contexto que surgem os veraneios Hampel e Blauth&Haupt, na Serra, inspirados em referências europeias quando lugares de clima ameno e vegetação abundante eram conhecidos pelos efeitos curadores. O primeiro, aberto desde 1899 em São Francisco de Paula, permanece em funcionamento até hoje.
O segundo, no atual distrito de Desvio Blauth, em Farroupilha, encerrou as atividades na metade dos anos 1950. No entanto, a localidade que o abrigava, depois de quase cinquenta anos, ensaia uma retomada da vocação turística da região com o surgimento de um roteiro artístico-cultural ainda bastante informal na mesma medida em que acolhedor e envolvente.
A iniciativa empreendedora dos herdeiros do antigo veraneio está fazendo surgir, desde meados de 2010, uma cena que atrai apreciadores de artes que transitam da música à pintura, passando pela fotografia e gastronomia. É possível passar uma tarde fazendo uma oficina de xilogravura, seguir para um happy hour ouvindo boa música e ir embora com a sensação de que de fato se está saindo muito melhor do que quando chegou.
Do passado ao presente
A história dos locais tidos como pioneiros no aparato turístico na região foram os motivadores para que o professor Luiz Ernesto Brambatti se debruçasse sobre o surgimento dos veraneios Hampel e Blauth & Haupt. O resultado está no livro Trens e Turismo, lançado em 2010 bem pertinho de onde tudo começou, no Estação Café Blauth.
A pesquisa conta que a ideia de investir em uma estrutura de hospedagem partiu da filha do empreendedor protestante Carlos Blauth Sênior, da segunda geração de imigrantes alemães, que foi para aquelas terras com a intenção de fornecer dormentes (traves de madeira onde se assentam os trilhos) para a manutenção da via férrea que por ali passava, e madeira para a construção de casas de imigrantes italianos.
Conforme relatos dos descendentes, Elsa e o marido, o pastor luterano Gottold Adolf Curt Haupt, ouviram os comentários dos viajantes que, admirados com a beleza da paisagem local, confessavam que se houvesse onde ficar passariam as férias ali.
Médicos, advogados, desembargadores, escritores e outros representantes da elite porto-alegrense, de São Leopoldo e Montenegro eram os principais frequentadores.
Pela facilidade do trem ou carro-motor (também conhecido como litorina, um verdadeiro ônibus sobre os trilhos), as famílias com maior poder aquisitivo procuravam fugir do calor da região metropolitana em direção a lugares mais altos, e consequentemente mais frescos, que tivessem infra-estrutura hoteleira, coisa que só existiria mais tarde no litoral gaúcho, a partir do asfaltamento de estradas.
O neto do pastor Curt e Elsa, Ricardo Haupt, falecido em 2007, lembra a dificuldade do transporte entre Porto Alegre e Torres antes da construção das entradas:
- Tinha que pegar um barco de Porto Alegre a Palmares, um trem que fazia Palmares-Osório, depois um vapor que fazia Osório-Porto Estácio, que ficava a 20 quilômetros de Torres, e os 20 quilômetros restantes eram feitos de carreta.
A temporada no Veraneio Blauth ia de dezembro a março. Equipado inicialmente com quatro blocos edificados, a sede principal possuía um refeitório, um escritório, a cozinha, uma pequena loja e uma farmácia. Mais tarde foram construídos mais nove chalés para hospedar famílias, além das repúblicas das moças e, do outro lado dos trilhos, a dos rapazes.
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