Duas das maiores cidades da Serra Gaúcha possuem 0% de tratamento de esgoto, número bem inferior à média nacional em que 57% dos brasileiros não têm este tipo de saneamento, conforme pesquisa do Instituto Trata Brasil e Fundação Getulio Vargas com base em dados de 2007. Farroupilha e Bento Gonçalves não têm rede e estações de tratamento, mas pretendem implantar o tratamento.
A preocupação com o saneamento não acompanhou a industrialização da cidade nas últimas décadas. Ao mesmo tempo que o poder público não fez investimentos em tratamento de esgoto, porque a lei não exigia, a população também não respeitou o meio ambiente, como mostram arroios poluídos. Como a fiscalização do que está embaixo da terra e em terrenos particulares é difícil de ser feita, ligações clandestinas do esgoto cloacal contribuem para poluir ainda mais os córregos.
O caso mais grave é em Farroupilha onde parte do esgoto recolhido do manancial Santa Rita desemboca na Barragem da Julieta, a mesma que abastece a população de água para consumo. Até um cartão postal de Farroupilha, o açude do Santa Rita não é mais considerado balneário, porque foi contaminado pelo esgoto da cidade. Um projeto para construção de estações de tratamento foi elaborado, mas ainda não tem nenhuma verba sinalizada para iniciar os trabalhos em Farroupilha, conforme o gerente da Corsan local, Carlaile Dall' Agnol.
O projeto foi enviado para obter recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 do governo federal, que ainda não foi aprovado.
Segundo o secretário de Obras de Farroupilha, para sanar o déficit da cidade seria necessário um investimento de R$ 60 milhões. O prefeito Bareta faz questão de frisar que a falta de esgoto tratado não é exclusividade de Farroupilha.
- Todas as cidades que tem contrato com a Corsan enfrentam o mesmo problema - declarou.
Em Bento, a corrida para sanar o déficit de tratamento está mais adiantada. De acordo com o gerente local da Corsan, Ben-Hur Toledo, a canalização já está sendo feita com recursos disponibilizados pela estatal: R$ 10 milhões e outros R$ 5 milhões do fundo de gestão compartilhado, provenientes de 5% da arrecadação da Corsan do município doados para obras da prefeitura.
Outros R$ 31 milhões foram liberados do PAC 1 para a construção da primeira estação de tratamento, que vai ser instalada junto à bacia de captação do bairro Barracão, uma das mais poluídas de Bento. Para atender 100% da população, estão previstas três estações ao todo e um investimento de R$ 90 milhões, orçado há três anos quando foi feito o projeto, conforme Toledo. A segunda estação vai atender o Centro e será a do Arroio Borgo, que desemboca no Rio Burati. Há pouco mais de uma semana, a Corsan recebeu a liberação de mais R$ 50 milhões do PAC 2 para essa segunda etapa.
- Aí vamos pular para 60% do tratamento de esgoto. Para quem não tinha nada, é um grande salto. Bento vai virar um canteiro de obras - destaca o gerente da Corsan.
A terceira estação será a do sistema Vinhedos, sem previsão por enquanto. O prefeito Roberto Lunelli (PT) tem pressa em ver as obras concluídas e adianta que o edital para definir a contratação das empresas que vão construir as estações de tratamento está para sair na primeira quinzena do próximo mês e a previsão é que as obras iniciem em outubro.
- Estamos começamos do zero e há muito que fazer, mas a ideia é que para 2014 tenhamos pelo menos mais da metade do esgoto tratado. Por causa da Copa do Mundo estamos correndo tanto - justifica o prefeito.
Normas da Federação Internacional de Futebol (FIFA) exigem que as cidades que irão receber jogos da Copa do Mundo tenham no mínimo 60% do esgoto tratado e Bento está pleiteando para ser sub-sede.
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