A arma que seria prova fundamental para esclarecer a morte de dois jovens em confronto com a Brigada Militar (BM), há seis meses, virou item secundário na investigação.
O delegado Álvaro Becker admite que é impossível estabelecer como um revólver Rossi calibre 38 foi parar na Fiorino onde os corpos de Anderson Styburski, 16 anos, e Danúbio Cruz da Costa, 20, foram encontrados na madrugada de 16 de março, em Bento Gonçalves.
Sem apontar a origem da arma, jamais ficará claro se os rapazes reagiram como afirmam os PMs ou se o revólver foi plantado na Fiorino, como sustentam familiares dos mortos e sobreviventes da perseguição. Fica cada vez mais óbvio que a tendência é de que o processo gire em torno do excesso praticado pelos PMs, conforme sugeriu o Inquérito Policial Militar (IPM) da Corregedoria-Geral da corporação.
Situação semelhante aconteceu em Caxias, em 2000, na morte do líder comunitário José Maria Martins, 42, também em perseguição da BM. A perícia encontrou um revólver sem procedência com o homem, indicando que José Maria estava armado, acusação sempre negada pela família, pelo MP e pela defesa. Nunca foi comprovado se o líder comunitário realmente investiu contra os PMs ou se morreu por engano. A arma que poderia eliminar as dúvidas se tornou prova sem relevância na decisão dos jurados.
No caso de Bento Gonçalves, o dono do revólver é de Santa Cruz do Sul e garantiu ter vendido o artefato em 2003 sem formalizar a transferência, como exige a lei. Ele indicou o nome do comprador, que também foi ouvido pela polícia.
- A arma foi repassada sem comprovante e ouvimos outros possíveis compradores e ninguém admitiu a posse. Ficou impossível rastrear por falta de um registro de compra e venda - diz Becker.
Segundo o delegado, o morador de Santa Cruz e supostos compradores não mantinham relação direta com Anderson e Danúbio. Tampouco seriam conhecidos dos policiais envolvidos no caso.
Os detalhes da investigação continuam em sigilo. O promotor de Justiça Eduardo Lumertz diz que ainda depende de uma perícia complementar do exame de balística e do depoimento de duas testemunhas. Portanto, só vai se manifestar quando estiver embasado em informações concretas.