Em Bento Gonçalves, o primeiro semestre de 2014 registrou aumento de 75% no número de homicídios com relação ao mesmo período do ano passado. Foram 14 pessoas assassinadas entre janeiro e junho deste ano. Em 2013, foram oito no mesmo período.
A maioria das vítimas são homens entre 20 e 35 anos e os crimes têm envolvimento com o tráfico de drogas. Bairros como Municipal, Zatt e Eucaliptos, por exemplo, estão no índice dos que mais registram as ocorrências. Dos 14 assassinatos, dois se caracterizam como latrocínio.
- São queimas de arquivo, desentendimento pela partilha de bens furtados. No fundo, o grande motivo são as drogas. Poucos resultaram de uma atitude inesperada - explica o delegado Álvaro Becker, da 2ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves.
Seis já tiveram a autoria do crime identificada. A falta de testemunhas é uma das dificuldades para o esclarecimento. Com medo de represálias, poucas optam em falar com a polícia. Dados anônimos nem sempre são confiáveis: às vezes, o próprio autor do crime articula comparsas para prestar informações falsas à polícia para prejudicar as investigações.
Em contraponto ao crescimento dos homicídios, diminuíram os índices de prisões por tráfico de drogas em 39%. No primeiro semestre de 2014, 14 foram presos. No mesmo período do ano passado, foram 23. Números que a delegada Maria Isabel Zerman, da 1ª Delegacia de Polícia, justifica pelo reduzido efetivo da polícia e pela articulação dos próprios traficantes.
- A delegacia conta com apenas quatro policiais para investigar o tráfico de drogas em toda a cidade de Bento. E os traficantes estão cada vez mais experientes, usando tecnologias mais avançadas, o que requer um trabalho de investigação muito maior por parte da polícia. Eles sentem-se poderosos, acham que estão acima da lei - enfatiza a delegada.
Traficantes têm usado mulheres e adolescentes para entregar ou vender a droga. É uma forma de tentar driblar a ação da polícia. Se detidos, eles alegam que o entorpecente era para consumo próprio. Este ano, uma das maiores apreensões ocorreu no bairro Aparecida, onde duas pessoas foram presas - mãe e filho. Cinquenta pedras de crack foram apreendidas, quantidade que representa aproximadamente R$ 500.
A facilidade em adquirir uma arma ilegal colabora para o empoderamento do traficante. As prisões por porte ilegal de arma reduziram-se em 19% e o número de armas apreendidas, em 38%. Em 2014, foram efetuadas 17 prisões por porte ilegal de arma contra 21 em 2013. Este ano, 21 armas foram apreendidas, contra 34 no ano passado.
O primeiro semestre de 2014 encerrou-se sem nenhum caso de homicídio por conta de violência doméstica. Em todo o ano de 2013, três foram registrados, número acima da média. Normalmente, Bento Gonçalves contabiliza por ano um homicídio que se enquadra na Lei Maria da Penha. Duas das mulheres mortas no ano passado não haviam registrado qualquer tipo de ocorrência na polícia. A terceira fez o registro entre 10 e 15 horas antes de ser morta. Todos os casos envolvem relação afetiva da vítima com companheiros ou ex-companheiros.