Uma das profissões que mais chama minha atenção é a do padeiro.

*Ariel Fedrizzi é professor de inglês.
A figura do homem que acorda antes do mundo para poder preparar o pãozinho fresco é linda. A perspectiva de colocar de lado o próprio sono – que, bem sabemos, jamais será recuperado da mesma forma, porque dormir de dia não proporciona o mesmo descanso – para fazer com que o dia dos outros comece bem é um ato de empatia.
Ver a lua deixar os céus e o sol dar as caras no horizonte, ouvir os primeiros ruídos da manhã, presenciar a humanidade em seu momento mais vulnerável e mais natural, e ainda assim viver com humildade, são coisas que tornam os padeiros pessoas de bem, almas caridosas.
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Abastecem o mundo em humilde silêncio, sem cobrar fama ou grandes doses de poder.
Assim como o ourives, que lapida a pedra bruta até transformá-la no diamante que tanto vemos na TV, o padeiro dá forma à massa. Seus instrumentos são os olhos, as mãos, o rolo, mas a minúcia com que afofa e estica e dobra é semelhante à do garimpeiro em busca do minério, do cobrador de falta partindo para a bola, do músico compondo sua próxima obra-prima.
O padeiro compõe obras-primas todas as manhãs. Sob a aurora do dia (e desde muito antes dela, na verdade), ele se conecta com seus antepassados e reproduz o que eles um dia fizeram. Através de mágica, o processo de fazer o pão revisita a história.
Depois de terminar sua benevolente missão, o padeiro abre as portas para levar sua invenção para o mundo: abre as portas do forno, abre as portas do carro, abre as portas das padarias.
E quando as pessoas normais lá chegam, algum tempo depois, com o sol já despontando no alto, são recebidas pelo aroma-frescor do pão. São acordadas repetidas vezes com o cheiro que entra pelas narinas, agraciadas com um despertar de amor.
Então elas compram o pão, levam para suas casas e repassam o carinho de colocá-lo à mesa e dar um beijo úmido na bochecha dos filhos e pais para acordá-los também.
Nunca veem o padeiro, tampouco pensam sobre ele – mas esta é só mais uma peculiaridade de um trabalho tão singular. Os grandes heróis nunca precisaram mostrar nada para ninguém. Salvam a humanidade em silêncio e constantemente, e muitas vezes precisam ouvir dos próprios defendidos que nunca houve risco.
De certa forma, é mais ou menos o que acontece.
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