Rodrigo Lopes
"Meu pai trabalhou 27 anos na Randon. Aposentou-se lá. Além da lembrança de menina, de buscar meu pai ao final do expediente (eu chegava ansiosa e cheia de orgulho dizendo: "vim buscar o Corso"), por alguma meia-hora, minha irmã e eu brincávamos de escritório na mesa do meu pai. Lembro de algumas calculadoras, daquelas que imprimiam uma notinha e daqueles blocos de notas grande milimetrado. Fazíamos contas e desenhos. Mas das lembranças mais tocantes, ficam as festas de final de ano para os funcionários. A lembrança me vem com imagens em filtros coloridos, em tons rosados e azuis, de um leve sépia. Éramos meninas pequenas, minha irmã e eu. Eu devia ter uns 10, ela, sete. Ficávamos ansiosas pelo dia da Festa, que, muitas vezes coincidia com o meu aniversário (19 de dezembro). A festa era para todas as famílias dos funcionários. Todas. Do chão de fábrica à diretoria. E acontecia no pátio da Randon. Preferi escrever esse texto sem consultar o meu pai, mas eu penso que a festa reunia umas 5 mil pessoas, entre adultos e crianças. E seu Raul estava lá. Apertando a mão de todos, e chamando muitos, mas muitos mesmo, pelo nome. Lembro que ganhávamos um ticket para retirar os nossos lanches e brinquedos. Ontem à noite, ao saber da morte do seu Raul, de imediato me veio essa lembrança, adormecida lá no fundo da memória entre muitas. Meu pai fez silêncio no grupo da família. Imagino que outras tantas vieram até ele. Fica aqui, a minha pequena homenagem ao Raul Randon. Um visionário nato, um cidadão de irretocável caráter e um homem de boníssimo coração."
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