
O Outubro Rosa, campanha que alerta sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, é considerada um sucesso em Caxias do Sul pela prefeitura. Em uma ação realizada em 7 de outubro, sábado em que as unidades básicas de saúde (UBSs) fizeram plantão especial, foram agendadas 1.627 mamografias para mulheres do grupo de rastreio da doença — com idade a partir de 40 anos. Na campanha de 2016, foram solicitados 688 exames.
O aumento de mais de 136% no número de mamografias em um ano indica que a estratégia de conscientização é bem sucedida. Um olhar mais aproximado, porém, revela que ainda há um longo caminho pela frente. Em todo o ano passado, foram realizados 14.319 exames pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Caxias do Sul, cerca de 1,2 mil por mês. Ou seja, o número de atendimentos gerados em um único dia de conscientização é maior do que em um mês normal da rede pública.
— O que a gente frisa nessa campanha é incentivar a importância do rastreio do tumor e, consequentemente, o diagnóstico precoce — destaca o mastologista Fernando Vivian, diretor técnico do Núcleo de Atenção à Saúde da Mulher da Secretaria Municipal da Saúde.
Ele explica que, quanto mais cedo o tumor for detectado, maior é a chance de cura e menos agressivos são os tratamentos. Conforme Vivian, a mamografia é o principal meio de detecção da doença e deve ser realizada anualmente por mulheres a partir de 40 anos.
— O autoexame é importante para a mulher ter o conhecimento do seu corpo e, quando perceber algo diferente, ela deve ir ao médico. Mas a gente incentiva que não foque apenas nele (autoexame) como uma forma de rastreio do câncer, porque vai trazer um diagnóstico mais tardio — alerta.
É possível solicitar o exame em qualquer UBS, segundo o médico. Caso o exame detecte uma lesão suspeita, a paciente é imediatamente encaminhada a um especialista.
— Temos, na mastologia, um dos melhores serviços do Brasil. No próprio Instituto Nacional de Câncer (Inca), a demora para realizar exames é muito maior do que a nossa — compara.
Ele reconhece, porém, que muitas mulheres ainda não procuram o serviço.
— Na ação no Hospital Pompéia (na última sexta-feira), encontramos uma mulher de 52 anos, com uma irmã com histórico de câncer, que nunca tinha feito mamografia. Se a gente não a aborda na calçada, ela nunca iria fazer. Então, essa campanha é muito importante — exemplifica.
Para Vivian, com a continuidade de campanhas como o Outubro Rosa é possível fomentar uma cultura de prevenção entre a população.
— Estamos conseguindo uma conscientização. Está caindo aquele tabu de "quem procura acha", por exemplo. Isso vem sendo desconstruído através dessas ações, dessa movimentação. As mulheres que tiveram câncer vêm se expondo mais e mostrando a força de viver. Isso dá a outras mulheres a coragem de fazer o diagnóstico, porque isso pode acontecer com qualquer um — pondera.
Agilidade no atendimento é arma contra a doença
Como forma de maximizar a eficácia do tratamento do câncer de mama, a rede de saúde pública municipal aposta na agilidade do atendimento. De acordo com Fernando Vivian, caso a doença seja detectada e tratada no início, a chance de cura pode chegar a mais de 90%.
Em Caxias, ele explica que, em apenas uma visita à UBS, é possível sair com a mamografia agendada para a semana seguinte.
— A solicitação de mamografia na UBS tem a tendência de ser imediata e não vinculada à consultas, para não fazer a paciente voltar e não perder o momento de fazer esse rastreio — afirma.
O resultado do exame, conforme Vivian, demora cerca de 10 dias. Caso haja suspeita de câncer, a paciente entra no Programa Municipal de Vigilância e Detecção Precoce do Câncer de Mama (Vigimama).
— A partir daí, ela cai numa fila de espera para um especialista, cuja consulta também não ultrapassa os10 dias. Não adianta ter a mamografia e esperar seis meses para chegar no especialista ou marcar uma cirurgia. Então, todas as etapas são muito bem monitoradas — garante.
O Vigimama também prevê a busca ativa de pacientes. Mesmo que o exame não seja retirado, ele é analisado, garante o diretor.
— Qualquer exame que apareça com uma categoria que sugere a possibilidade de câncer, nós notificamos a UBS, ela localiza essa paciente e providenciamos a consulta com um mastologista. Se ela não comparecer, vamos atrás outra vez — revela.
De acordo com o mastologista, o investimento na atenção básica compensa a procura menor por hospitais no futuro.
— No inicio da campanha, nós deslocamos 290 servidores. É um gasto, mas quanto mais a gente pensa na atenção básica, menos vamos a necessitar de tratamentos mais pesados depois — conclui.
"O câncer me fez ver a vida diferente"
A monitora Marisa Lourenço César, 58 anos, faz tratamento contra o câncer de mama desde 2016. Ela relata que descobrir a doença foi um choque.
— No início é desastroso, tira nosso chão — relata.
Hoje, ela encara a doença de outra forma.
— Eu dou valor a coisas que antes não tinham importância, as pequenas coisas, a amizade, o carinho, a atenção — enumera.
A reflexão de Marisa só é possível, porém, porque ela detectou o câncer no início.
— Foi um exame de rotina. O médico descobriu o tumor em um estágio inicial, mas era um câncer invasor, que tive de operar às pressas. O maior susto que eu levei foi quando ele disse: "tu tem de parar com tudo e começar o tratamento agora".
Ainda afastada do trabalho, Marisa participou de uma caminhada de conscientização com outros pacientes na tarde do domingo, em Caxias.
— É muito importante conscientizar as pessoas que estão bem de que essa doença não tem classe social, idade... Ela invade a vida da gente e deixa a gente desnorteada — conta.
COMO SE PREVENIR
:: Mamografia: é o principal meio de se detectar a doença nos estágios iniciais. O Ministério da Saúde recomenda o exame para mulheres desde os 50 anos mas, na rede pública de Caxias, a mamografia é disponibilizada para mulheres com a partir de 40 anos.
:: Autoexame: é importante para detectar qualquer anomalia, como um caroço ou alteração na textura das mamas, por exemplo.
:: Detecção: quanto antes for realizada, maior a chance de tratamento. Conforme o mastologista Fernando Vivian, o ideal é que o tratamento comece quando o tumor tem menos de um centímetro, o que dá mais de 90% de chance de cura. A velocidade da doença, porém, depende de diversos fatores, como a idade da paciente. Em mulheres mais jovens, o câncer costuma ser mais agressivo.
:: Família é fator de risco: não se sabe exatamente o que causa o câncer de mama, mas a genética é um fator de risco. Mulheres com familiares de primeiro grau que já tiveram a doença (mãe, filha ou irmã, por exemplo) devem redobrar os cuidados. Cerca de 10% dos casos são hereditários.
:: Onde buscar atendimento: a mamografia pode ser solicitada gratuitamente em qualquer UBS. O tratamento também é coberto pelo SUS.
:: Homens: Estima-se que cerca de 1% de todos os casos de câncer de mama no mundo atinjam homens. A condição é rara, mas nódulos na mama podem ser um sinal da doença. É necessário consultar um médico para o diagnóstico correto.