Adriano Duarte
Paula Madalosso do Vale, 19 anos, afirma que a confusão que colocou o nome de sua mãe, Mirian Madalosso da Silva, 53, como vítima fatal de um atropelamento em Caxias do Sul, foi provocada pelo atendimento no Departamento de Perícias do Interior (DPI). Ao ser informada de que a mãe havia morrido após ser atingida por um ônibus na Avenida Rio Branco, no início da tarde de quinta-feira, a jovem foi até o DPI fazer o reconhecimento, uma exigência da lei.
Segundo Paula, um funcionário não permitiu acesso ao corpo e mostrou apenas a identidade de Mirian. Como o documento estava com a vítima do atropelamento, no caso uma amiga de Mirian, Paula foi levada a crer que se tratava de sua mãe.
A mulher atropelada permanece sem identificação formal no DPI, mas funcionários da Casa de Acolhimento Institucional Carlos Miguel dos Santos, o albergue municipal, confirmam que ela é uma interna da instituição. O nome ainda não foi divulgado.
Mirian trabalha como cuidadora de um casal de idosos no bairro Rio Branco, nas proximidades da avenida onde a amiga morreu atropelada. A agência onde ela presta serviços disse que Mirian está impossibilitada de falar sobre o assunto na manhã desta sexta-feira pois precisa dedicar toda a atenção para os idosos
Confira trechos da entrevista concedida por Paula ao Pioneiro.
Pioneiro: Como aconteceu a confusão envolvendo sua mãe e a mulher atropelada?
Paula Madalosso do Vale: Minha mãe não mora comigo, mora em um albergue, então eu não tenho muito contato. Mas recebei uma ligação na tarde de ontem (quinta-feira) e me disseram que minha mãe havia morrido. Fiquei assustada e me orientaram ir ao DML (Departamento Médico Legal, hoje DPI) para reconhecer o corpo. Quando cheguei lá, mostraram a identidade da minha mãe. Pensei em ver o corpo, mas não deixaram porque tinha o documento. O funcionário que me atendeu não deu muita explicação e apenas falou que o procedimento era assim. Então assinei o papel para o atestado de óbito e fui encaminhar o velório e o enterro com a capela. Saí de lá com uma bolsa com roupas e brincos que pensava ser da minha mãe.
Pioneiro: Quando soube que a mulher atropelada era outra pessoa?
Paula: Isso já era tarde, de noite. Minha mãe me telefonou e disse que estava viva, que estavam velando a pessoa errada. Fiquei apavorada e daí fui até a capela olhar o corpo. Não tinha como ser ela mesmo. Se olhar a identidade e ver o corpo dá para ver a diferença: a mulher que morreu é morena, mais nova. Minha mãe é mais velha, tem pela mais clara, apesar do cabelo ser escuro também. Fiquei pensando que não compararam o rosto com a foto da identidade porque o corpo estaria deformado por causa do acidente. Mas quando voltei na capela, vi que o rosto dessa mulher estava normal, era possível ver a diferença.
Pioneiro: Sua mãe lhe contou como a identidade foi parar com a verdadeira vítima do atropelamento?
Paula: Ela me contou que havia emprestado o documento para essa mulher, que era amiga dela lá no albergue. A mulher iria buscar as roupas em uma feira para minha mãe, só que para retirar precisava mostrar a identidade. Então, ela saiu com o documento dentro da bolsa e foi atropelada. Daí levaram o corpo e o pessoal pensou que se tratava de minha mãe. De noite, quando ela chegou no albergue, todo mundo se assustou. Então ela soube que seu nome constava como a morta.
Pioneiro: Você já havia encomendado o velório?
Paula: Sim, estava tudo certo. Marcamos o sepultamento para hoje (sexta). Quando vi a confusão, cancelei tudo. Me desfiz das roupas e dos objetos que me entregaram.
Pioneiro: Onde estão esses objetos?
Paula: Joguei fora, quando vi que não eram da minha mãe, dispensei na hora. Estava nervosa com a situação.
Pioneiro: Mas houve um alívio de certa forma?
Paula: Sim, fiquei aliviada por não ser minha mãe. Não temos relação próxima, mas é minha mãe. Fiquei triste por essa outra mulher. Acho que alguém devia notificar o DML (DPI) sobre essa confusão desnecessária.
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