O episódio da torcedora do Grêmio flagrada chamando o goleiro Aranha de macaco durante a derrota do tricolor para o Santos, em agosto, está longe de ser um fato isolado na vergonhosa história da discriminação racial no Rio Grande do Sul.
Em 2011, Caxias do Sul registrou episódio semelhante: uma operadora de caixa de um supermercado foi alvo de piada racial por parte de um dos fundadores do estabelecimento, o empresário Orlando Andreazza, 80 anos.
Brincando, conforme argumentou na Justiça, Andreazza disse que a gravidez da colaboradora Queren Pereira de Souza Oliveira, na época com 23 anos e grávida de sete meses, tinha semelhança com um automóvel com o pneu furado: ambos esperavam um macaco.
Queren não achou graça e procurou a 3ª Vara do Trabalho de Caxias do Sul, solicitando indenização por dano moral decorrente de injúria racial. O processo foi movido contra os sócios da Rede Andreazza. Mesmo condenada no Rio Grande do Sul, a empresa recorreu até a última instância, em Brasília. Recentemente, o processo voltou para a Justiça de Caxias, com sentença final. Queren venceu.
- O processo não cabe mais recurso. Ele está homologado e foi dada a condenação. O que pode ocorrer, é recurso para rever a atualização do cálculo de juros - afirma a juíza da 3ª Vara Ana Julia Fazenda Nunes.
De acordo com o defensor da ex-caixa do supermercado, Samuel Pinheiro, a indenização gira em torno de R$ 66 mil:
- No início, pedimos R$ 100 mil, mas depois que o processo foi parar no Tribunal Regional de Trabalho, em Porto Alegre, a indenização ficou em R$ 40 mil. O valor final é baseado nos juros devido às vezes que o acusado recorreu. Uma parte do valor já foi repassada para a Queren. Estamos aguardando a liberação do restante.
O advogado lamenta que os casos de discriminação racial no ambiente de trabalho continuam sendo recorrentes em Caxias, e estimula as vítimas a seguir o exemplo de Queren.
Contraponto:
Procurada pelo Pioneiro, a direção do Andreazza não se manifestou.
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