Miriam Madalosso, 53 anos, levou um susto na noite de quinta-feira. Ao voltar do trabalho e chegar ao albergue em que vive, no bairro Fátima, foi informada que seu nome constava como vítima fatal de um atropelamento:
- Disseram que eu estava morta. Que meu nome estava nas redes sociais. Fiquei confusa na hora. Não entendo muito dessas coisas de internet e, na hora, pensei que fosse algum tipo de brincadeira. Naquele momento, nem lembrei que havia emprestado o meu documento para a Liandra.
A cuidadora de idosos conta que emprestou o documento para a amiga retirar roupas na Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan), no bairro Rio Branco. No caminho, em frente ao quartel do Exército, a amiga foi atropelada por um ônibus da Visate e morreu no local.
- Pedi para ela ir buscar as roupas, pois há duas semanas comecei a trabalhar fichada e não queria faltar serviço. Foi a primeira vez que emprestei o documento, senão não deixariam ela retirar - explica Miriam.
Miriam se deu conta de que a amiga havia morrido quando lembrou que ela estava com o seu documento de identidade. Foi até a funerária para desfazer o engano e encontrou a filha, que estava levando as roupas para a mãe ser velada.
- Ela ficou aliviada em me ver ali, viva. Fomos juntas ver o corpo e reconheci a Liandra. Ela é bem diferente de mim. Quase impossível confundir. Se tivessem (o DPI) deixado minha filha ver o corpo, ela teria visto na hora que não era eu. Voltei para o albergue e não consegui fechar os olhos a noite inteira: via a cama da Liandra vazia e pensava em tudo o que aconteceu - desabafa.
Miriam conheceu Liandra há pouco mais de um ano. As duas se tornaram grandes amigas, e planejavam morar juntos. A mudança ocorreria neste final de semana. Miriam saiu de casa devido a problemas com álcool. Liandra fazia tratamento contra a dependência química no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Reviver, no bairro Cinquentenário.
- Ela queria abrir um negócio, era costureira. Teve problemas com o ex-marido e estava sob medida protetiva no albergue. Liandra gostava muito de ler. Era uma mulher muito inteligente. Tocava teclado na banda do Caps. O que aconteceu é muito triste. Agora, vou sair do albergue, tocar minha vida e cuidar da minha filha. Viver um dia de cada vez, pois a gente não sabe como será o dia de amanhã.
O corpo de Liandra ainda está no Departamento de Perícias do Interior (DPI), à espera de identificação por parte de familiares. No cadastro do albergue, consta o nome de três filhos e de outros familiares, mas nenhum foi localizado.
Se alguém tiver contato dos familiares de Liandra basta procurar a polícia ou a Fundação de Assistência Social (FAS) pelo telefone 3220.8700.
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