GERAL

Acidente de trânsito

Rodovias que cruzam Caxias do Sul concentram metade das mortes no trânsito dos últimos 10 anos

As três principais rodovias que cortam o trecho urbano somam 276 mortes

Raquel Fronza

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Roni Rigon / Agencia RBS
BR-116 concentra 85 acidentes fatais até 2016, e 92 mortes

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As três principais rodovias que cortam o trecho urbano de Caxias do Sul somam 276 mortes na última década. E um número de mortes pequeno, mas suficientemente marcante, já foi presenciado pelo borracheiro Ademar Boeira Almeida. Diariamente, das 8h às 18h, ele atende motoristas que precisam de socorro após furar pneus ou quebrar o carro em algum ponto da BR-116. No humilde espaço em que trabalha, no bairro São Ciro, já ajudou a uma dezena de pedestres atropelados. Na última ocorrência que presenciou, um pedestre foi arremessado após desembarcar do ônibus e tentar atravessar a rodovia, por volta das 18h. O acidente aconteceu no dia 8 de junho, mas a vítima deixou a UTI e passou para um quarto de isolamento do Hospital Pompeia apenas neste fim de semana.

– Quando acontecem essas tragédias, eu fecho as portas e vou para casa. Estraga o dia de qualquer um. Esses dias eu estava parado na frente da borracharia, e um carro quase me acertou. O pessoal é muito apressado – analisa.

O trecho urbano da BR-116 tem 17 quilômetros, onde já foram registrados 85 acidentes com 92 mortes. Segundo o inspetor-chefe da Polícia Rodoviária Federal, Alfonso Willembring Júnior, a maior parte das ocorrências se concentra entre o bairro São Ciro, o acesso à empresa Marcopolo, na região do bairro Planalto, e o acesso a Galópolis. As outras duas estradas que dividem o ranking de mortalidade na área urbana são estaduais: a ERS-122, que liga Caxias a municípios como Flores da Cunha, e a RSC-453, a famosa Rota do Sol. São 184 vítimas que patrulheiros como Givanildo Schiavon, comandante do Grupo Rodoviário da Brigada Militar em Farroupilha, já tiveram de socorrer.

– O que impera nestas vias é um excesso de retornos ao longo da pista e bairros com população numerosa, o que faz com que as pessoas fiquem longos períodos aguardando para travessia. Como são muitos bairros, há diversos retornos, um fator que contribui bastante para as tragédias – explica Schiavon.


Dezoito, Sinimbu e Visconde de Pelotas: o perigoso eixo central

Possivelmente por acumular boa parte do fluxo diário central, as ruas Os Dezoito do Forte, Sinimbu e Visconde de Pelotas figuram no ranking de acidentes fatais de Caxias do Sul. As características viárias são tão semelhantes que o número de ocorrências fatais em cada uma é de sete acidentes. No entanto, o número de vítimas difere: enquanto a Visconde e Os Dezoito do Forte concentram, cada uma, oito mortes, a Sinimbu chega a nove. Nesta última, o número maior se explica em decorrência de uma única colisão que vitimou três jovens em 6 de novembro de 2011. A mistura de álcool ao volante e velocidade foi apontada como provável causa para o acidente no bairro São Pelegrino.

– É possível atravessar toda a Sinimbu em uma onda verde, com todos os semáforos abertos, se o motorista seguir a 60 km/h. Não há motivo para tanto acidente, se não a imprudência. O advento do celular e a falta de cumprimento de regras também motivam essas ocorrências. Quando as pessoas são educadas, as mortes decrescem – opina Juarez Ribeiro, especialista em trânsito e professor da UCS.

Outro fator que o professor atenta é que motoristas se tornam mais rápidos e menos respeitosos à noite, com receio, muitas vezes, de assaltos. E é à noite e de madrugada que boa parte dos acidentes acontecem em Caxias, segundo o Detran. As três vias possuem 38 semáforos de pedestres, sendo a Visconde com menor número (sete) e 48 faixas de pedestres. A última ocorrência na Os Dezoito do Forte foi em maio do ano passado, quando a colisão entre um Santana e um caminhão deixou um morto e um ferido, no início da manhã de um domingo. O motorista não era habilitado. A ocorrência fatal mais recente na Visconde de Pelotas foi no bairro Pio X, em 2015. A vítima fatal colidiu o carro contra uma árvore e depois em um poste de semáforo.

"Ninguém respeita a faixa"

Acesso importante para bairros da Zona Sul e ao interior de Caxias, a Júlio Calegari, no bairro Esplanada, concentra oito mortes na última década e acidentes diários. Há quatro anos, a comerciante Cláudia Pereira assiste ao vaivém apressado de carros e pedestres e se assusta com o barulho de freadas bruscas:

– Tem a faixa de pedestre, mas ninguém respeita. O mais complicado aqui é ser pedestre, mas o que mais escuto é barulho de um carro batendo no outro.

Uma adolescente de 13 anos morreu atropelada em março de 2015. Além desta ocorrência, a Brigada Militar registrou outro acidente fatal em fevereiro de 2014: o motociclista Lucas Scotti de Melo, 19, morreu ao se envolver na colisão com um caminhão. Em setembro de 2009, Régis Paulo Batista da Costa, 55, perdeu a vida ao ser atropelado por um ônibus. Três meses depois, Everton Dalmoro Borges, 16, morreu em um acidente de moto.

– Depois que instalaram o semáforo, melhorou um pouco. Mas o pessoal não respeita – diz o repositor José Silva, referindo-se à sinaleira instalada em 2015 em frente à Escola Teutônio Vilela.

Movimento intenso e velocidade nas perimetrais

Roni Rigon / Agencia RBS
Perimetral Norte no cruzamento da Moreira é um dos trechos mais perigosos

Cruzes de madeira ao longo da Avenida Ruben Bento Alves sinalizam o perigo que condutores e pedestres que passam diariamente por ali enfrentam. A perimetral é a número um do ranking de ruas com mais acidentes fatais. A última ocorrência a entrar no levantamento do Detran foi no cruzamento com a Humberto de Campos, próximo da rotatória que dá acesso ao bairro Fátima. O motorista de uma Kombi foi esmagado por um caminhão que não conseguiu subir a Humberto de Campos, em março de 2016.

Um dos cruzamentos mais perigosos é no entroncamento com a Moreira César. Funcionários de uma revenda de carros acostumaram-se a conviver com freadas ou colisões.

– Muita gente mexe no celular, ou chega correndo e fura sinal fechado. Todo dia observamos gente que não respeita o semáforo. Acidentes com feridos a gente vê quase toda semana – conta o vendedor Alex Sandro Hoffmann.

Em outra via de velocidade 60km/h, a Avenida Bruno Segalla (Perimetral Sul) faltam calçadas aos pedestres e a alta velocidade dos veículos é frequente.– Como são ruas de movimento intenso, é ainda mais necessário o respeito aos pedestres – diz o gerente de Educação para o Trânsito da prefeitura, Carlos Beraldo.

Avenida Rio Branco é perigosa

Com 2,5 quilômetros de extensão, a Avenida Rio Branco é importante ligação com a região central da cidade, iniciando na Avenida Itália e desembocando na Avenida Bruno Segalla (Perimetral Sul). O trecho foi ponto de sete acidentes fatais na última década, em diversos cruzamentos. Estes casos resultaram em oito mortes. Em um deles, uma mulher de 53 anos foi atingida por um ônibus da Visate, em setembro de 2014.

A instalação de uma lombofaixa, no entanto, teria ajudado a reduzir as ocorrências na região do bairro Rio Branco. Dono de uma padaria nas proximidades há 36 anos, o empresário Sady Antonio Spiazzi não lembra exatamente quando o equipamento foi colocado na rua (estaria lá há pelo menos três anos), mas destaca o papel fundamental que ela exerce na conscientização do trânsito.

– Depois que a rua passou a ser de mão única, os motoristas que seguiam rápidos agora são obrigados a parar porque a faixa é alta. Há um impacto entre o carro e o asfalto. Ajudou muito, e para sair do papel, ficamos mais de dois anos pleiteando – lembra o comerciante.

Segundo a Secretaria de Trânsito, o entrocamento da Perimetral Sul com a Avenida São Leopoldo é o trecho com mais acidentes com feridos em 2017, com nove ocorrências até o fim de junho.

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