O preço do combustível continua impactando bastante na rotina financeira do consumidor, mas há postos na região que oferecem preços mais razoáveis. Uma blitz da reportagem em postos distribuídos em três cidades da Serra Gaúcha aponta que o menor preço do litro do combustível na região é encontrado em Bento Gonçalves, a R$ 2,99. Em Caxias do Sul, o valor mais em conta é de R$ 3,13, uma diferença de R$ 0,14.
O preço médio do combustível avaliado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) aponta a diferença de R$ 0,09 entre Bento e Caxias. Tendo como base as médias do Pioneiro entre as duas cidades, a diferença chega a R$ 0,32. Farroupilha, terceira cidade pesquisada pela reportagem, não tem preço mínimo estabelecido pela ANP por ser um município de menor porte, mas a reportagem constatou que, na cidade, o motorista precisa desembolsar, em média, R$ 3,43 pelo litro da gasolina. Para Bento, o preço médio identificado pelo Pioneiro é de R$ 3,09, ou seja bem mais em conta que o cenário caxiense. A pesquisa do Pioneiro foi feita na última terça-feira.
Vale a pena, portanto, ficar de olho e pesquisar. Ao comparar o posto mais barato de Bento com o mais caro de Caxias, por exemplo, a variação chega a R$ 0,53. Essa diferença dos preços sugeridos em cidades vizinhas coloca dúvida em especialistas. O discurso geralmente usado por donos de postos e representantes do setor para argumentar sobre a diferença dos valores comercializados na Capital e na Serra é o custo do transporte do produto, que geralmente é trazido de Canoas. Mas, quando se tratam de municípios tão próximos, não é possível aplicar a mesma lógica:
- A distância para o transporte fica muito parecida, e o preço que é comprado é muito próximo nas duas cidades. Mas cada revendedor coloca o preço que achar vantajoso, e depende exclusivamente dele o valor que quer cobrar - explica o presidente do Sindipetro Serra, Luiz Henrique Martiningui.
Difícil entendimento também para o economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Carlos Paiva. Ele duvida que os preços mais baixos oferecidos em Bento Gonçalves vão se manter por muito tempo: a tendência é que devam convergir com os de Caxias, por exemplo. Mas essa queda dos valores dos postos de Bento seria fruto de um movimento único de concorrência dentro do município. Por lá, nos últimos 15 dias, postos reduziram, em média, R$ 0,10.
- Numa cidade de porte médio como Bento Gonçalves, um único varejista bem situado pode iniciar um movimento baixista que deverá ser seguido por todos os demais - acredita.
A concorrência interna entre proprietários de postos dentro do mesmo município é a principal aposta que o economista Carlos Paiva faz. Alguns obtêm bons descontos, outros precisam se manter no mercado e são forçados a baixar o preço e seguir disputando a clientela. No entanto, municípios vizinhos não seriam obrigados a aderir a esse movimento, porque um consumidor não viajaria até a cidade ao lado para abastecer, já que esse deslocamento implicaria em prejuízo.
Esta concorrência dos postos dentro da cidade transforma a venda dos produtos "pouco operacional", avalia Paiva.
- Os varejistas da cidade vizinha não precisam seguir o concorrente audacioso. Porque, ainda que a diferença seja expressiva, não é tão grande para estimular um número expressivo de moradores a se deslocarem até Bento Gonçalves. Assim, os preços de Caxias continuam a ser montados normalmente - diz.
Os preços de combustível comercializados em Caxias do Sul estão entre os 10 mais caros do Estado, afirma o coordenador da região Sul da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Edson Silva. Os comerciantes se sentem à vontade para praticar estes preços porque há demanda por parte dos motoristas, lembra o coordenador.
- Eu me intrigo muito com os preços cobrados em Caxias do Sul, são bastante altos. Mas há municípios com valores mais altos, como Bagé, onde chegou a R$ 3,62 - afirma Silva.