Nenhum bom-jesuense nasce na terra natal desde 2012, quando o Hospital de Bom Jesus fechou o bloco cirúrgico para reforma. Todos os nascimentos ocorrem em Vacaria.
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Engravidar, portanto, é arriscado, já que em situações de emergência é preciso viajar 60 quilômetros. Diante da proibição de realizar partos no Hospital de Bom Jesus, a solução encontrada pela equipe da Secretaria Municipal de Saúde é fazer o procedimento do lado de fora. É na ambulância, enquanto se dirige ao Hospital Nossa Senhora da Oliveira, de Vacaria. Desde o começo do ano, seis mulheres tiveram bebês nessas condições.
Não são apenas os nascimentos que estão prejudicados por lá. A saúde da população dos Campos de Cima da Serra depende exclusivamente do hospital de Vacaria. A crise que se instaurou no começo dos anos 1990 no Hospital de Bom Jesus, que desafogava filas em Vacaria e era referência para São José dos Ausentes e Jaquirana, até hoje não cessou. Um passeio pelos corredores mostra o abandono. Há infiltrações nos quartos, os colchões são velhos e finos. Há dez anos o hospital executava cirurgias e internações, mas hoje quase não recebe pacientes. No dia 21 de outubro, enquanto quase duas dezenas de bom-jesuenses percorreriam 60 quilômetros para serem hospitalizadas em Vacaria, apenas três moradores ocupavam leitos na própria cidade. Para quem mora em Ausentes, a distância chega a 100 quilômetros até Vacaria.
O Hospital Nossa Senhora da Oliveira afirma que o número de pacientes de Bom Jesus atendidos na instituição aumentou 15% em relação ao ano passado.
A falta de equipamentos e profissionais provoca insegurança entre os 19 mil moradores da região e tira o sono do secretário da Saúde de Bom Jesus, Julio Nagiby Godoi Tessari.
- Estou de mãos atadas. Nós pressionamos direção, Ministério Público, Estado. E repassamos verba todo mês, não há mais nada que possamos fazer. Mas o paciente chega no hospital e é levado para Vacaria até para colocar um gesso numa perna - desabafa.
Há vagas abertas para enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêutico e médico anestesista. Poucas pessoas se interessam em trabalhar no hospital, segundo a então diretora, Bruna Grazziotin, desligada da instituição no dia seguinte da entrevista ao Pioneiro. Quem responde agora é o administrador hospitalar Juliano Dalsotto da Silva.
Bruna admitia que a equipe não tem experiência na função. Para reabrir o bloco cirúrgico, fechado há dois anos depois da reforma, é necessário que os profissionais se qualifiquem e vivenciem a rotina de hospitais maiores, como os de Caxias do Sul.
- Os médicos encaminham os pacientes para Vacaria porque avaliam que é necessário. Não podemos interferir na conduta médica. Se não há alguém que saiba colocar gesso, o melhor é o paciente ir para Vacaria - confessou ela.
Ainda que a média de atendimentos prestados seja pequena, cerca de 900 por mês, o hospital sustenta déficit de mais de R$ 25 mil mensais.
- As pessoas não entendem que precisamos manter o estoque de remédios em dia, a folha de pagamento, as contas - justifica.
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