Um abandono revoltante, um salvamento esperançoso, um encaminhamento polêmico e um final trágico. Assim foi a história protagonizada nesta quinta-feira por seis gatinhos em Bento Gonçalves. Às 11h, a empregada doméstica Rosemar Monteiro da Silveira, 48 anos, deixou o salão de beleza onde trabalha a pé e se dirigiu à residência de sua patroa, Carla Cogorni, como faz todos os dias para cumprir o expediente. Ao passar pela Rua Loreno Michelin, no bairro Progresso, Rose ficou surpresa ao ouvir barulhos estranhos vindo de um terreno baldio. Ela se aproximou do lugar e deparou-se com um saco de farinha amarrado com um fio de luz, envolto em um saco de carvão. Ao retirá-lo do mato, veio a surpresa:
>> VÍDEO: confira o momento em que os gatos foram encontrados
- Havia seis gatinhos recém-nascidos. Estavam todos molhados porque chovia bastante na hora. Alguns bastante debilitados. Pedi socorro a uma conhecida que estava passando, que chamou o pai dela e fomos nós três até os bombeiros. Até enrolei eles na minha japona para aquecer eles e ligamos o ar-condicionado do caro - conta Rose.
Ao chegar ao Corpo de Bombeiros, houve uma discussão polêmica.
- Eles (os bombeiros) não queriam ficar com os gatinhos porque disseram que não era compromisso deles, fizeram bem pouco caso, falaram que eu poderia ser presa por levar os bichos lá. É crime largar os bichos. Agora é crime socorrer também, em que mundo nós estamos? - revolta-se a empregada.
O capitão Sandro Gonçalves da Silva, do Corpo de Bombeiros de Bento, pondera:
-Informamos a ela que aqui não é um lugar adequado para eles. Ela disse, então, que iria abandonar os gatos na frente dos bombeiros, aí assim avisamos que seria crime. Então decidimos pegar eles, dois já estavam mortos. Tentamos contato com a ONG Patas e Focinhos, mas como era meio-dia ninguém atendeu ao telefone. Tentamos também a Vigilância Sanitária e uma veterinária, mas ninguém atendeu.
O capitão conta que um soldado da corporação que se deslocaria para Farroupilha aceitou levar os animais até Caxias do Sul, em uma ONG que ele conhecia. O soldado, cujo nome não foi informado, saiu do quartel por volta das 13h. No meio do caminho entre Bento e Farroupilha, o capitão Sandro alega ter recebido a amarga informação:
- O soldado me ligou e disse que os gatos não estavam mais miando. Parou e constatou que todos vieram a morrer. Então ele enterrou os gatos na estrada. Até tentamos alimentar eles aqui, mas precisava de uma ama de leite, uma gata que pudesse amamentá-los. Não podíamos dar comida - revela Sandro.
Rose, a salvadora dos felinos, tinha intenção de ficar com um deles caso resistissem. A empregada doméstica está indignada com o episódio.
- As pessoas que fizeram isso são desumanas, não tem amor nem por si mesmas. É uma falta de caráter, é ridículo. Se pegar um animal tem que ter responsabilidade porque é para a vida toda. Quando eu vi os gatinhos me deu uma tremedeira. Eu não tenho animal porque não tenho condições, mas queria buscar um deles para mim e dar veterinário, pet shop e essas coisas. Se eu conseguisse eu pegaria os seis para mim - desabafa.