A mãe dizia que preferia ver a filha num shopping do que de bombacha. Mas Calinthia Cunha ignorou o recado. E transformou-se em campeã do Brinco de Outro, a única da Serra. Duas vezes.
Com 27 anos, ela volta da maior feira de animais e produtos agrícolas, a Expointer, vencedora pela segunda vez do que se pode chamar de versão feminina do disputado Freio de Ouro. Repetiu o feito de 2010. A vitória veio com gosto de superação, para ela e para o crioulo de cinco anos, Dom Faceiro do Refugiado. Juntos, eles superaram outros 12 competidores na final.
- Dois meses antes da competição ele machucou uma das patas de trás. Conseguimos curar e ele se mostrou um cavalo bom. Foram apenas 20 dias de treino, menos da metade do tempo - conta Calinthia.
O mérito vai também para a guria. Aprendeu a andar a cavalo aos oito anos, no sítio da avó em Guaporé. Aos 15, ganhou a tradicional festa de debutante... e também um cavalo crioulo do pai.
- Não me fizeram escolher, mas se tivesse, ficaria com o animal - conta, fazendo brilhar os olhos verde-azulados.
Começou a laçar em rodeios e a praticar de provas de rédea e três tambores. Com o marido, Libamar Novello, ela, formada em Engenharia Ambiental, cuida hoje da administração da Cabanha Redomona, em Flores da Cunha: compra a ração, a alfafa, marca atendimento veterinário, e treina diariamente três cavalos para a prova. Foi Libamar, aliás, que deu ao gosto por cavalos de Calinthia um cunho mais profissional.
- Eu encontrei ela em um treino de laço em Caxias. Não sei explicar, mas quando vi ela pensei: É ela. Gostei dela na hora. Coisas que acontecem na vida - lembra.
As campeãs do tiro de laço
Quando Karine era criança, o pai tinha de sair a cavalo escondido. A guria chorava se não fosse junto. Com Priscila, a irmã mais nova, acontecia o mesmo. Já era um indício do que se veria depois: Karine e Priscila Castilhos, as irmãs conhecidas no mundo das festas campeiras como as campeãs de tiro de laço do rodeio de Vacaria.
Na casa onde moram, na Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no distrito de Cazuza Ferreira, em São Francisco de Paula, o pai, José Edson Castilhos, exibe orgulhoso os troféus - que ocupam paredes e estantes de duas salas - e os feitos das moças.
- Teve uma vez que ela foram sozinhas buscar o gado. O rebanho vinha até uma certa altura do campo e depois corria para o mato. Elas, a cavalo, tiraram o gado do mato e trouxeram para casa - lembra José Edson, conhecido como Zeca.
Karine, 28, e Priscila, 26, fazem parte de uma geração de mulheres que substituiu o vertido de prenda pelas botas e bombachas. Pouco param dentro de casa. Da lida de campo são conhecedoras. Com três anos, já ensaiavam as primeiras saídas sozinhas a cavalo ao redor da casa. Entre os oito e os dez, estreavam nas canchas de tiro de laço.
As tarefas diárias incluem tratar os animais pela manhã, organizar a ordenha mecânica das vacas de leite, fazer queijo, ir ao campo vistoriar e contar o gado, apartar e trazer os animais que precisam de cuidado no galpão. As gurias ajudam ainda a pesar e carregar no caminhão o gado dos vizinhos, já que a família é a única que tem balança nas redondezas. Ainda dão aula na Escola Estadual Padre Ritter. Karine cursa a faculdade de Matemática e Priscila é formada em Letras.