Sandra Cecília Peradelles
Ainda não batia 14h no relógio, era quarta-feira. Ou sábado. No momento de pandemia e cárcere em que vivemos é complexo discernir um dia do outro. Mas foi num desses onde o fantasma do coronavírus já assombrava o mundo e nós duas, eu e minha bebê, já nos encontrávamos em quarentena profunda. Estávamos sentadas à mesa, ela comia, como sempre, sozinha, exalando uma independência incomum para seus recém completos dois anos. Eu a observava boquiaberta, ela tão doce e astuta, com seus profundos olhos redondos e, de repente, num instante, se irritou, gritou e lançou seu prato longe, o caldo do feijão criou uma obra de arte pós-moderna na parede branca.
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