Pedro Guerra
Quando eu era pequeno, visitar a casa da minha bisavó era um programa e tanto aos finais de semana. Lembro de sempre encontrá-la sentada no caixote de madeira que guardava as lenhas e ficava debaixo da janela, por onde ela nos via chegar. Eu não entendia direito o porquê de a bisa estar sempre naquele lugar, e hoje arrisco dizer que dali ela via tudo: o meu bisavô que tinha partido anos antes, a sua horta que tinha um pouco de tudo, e aqueles que lembravam de visitá-la e chegavam de mansinho pelo portão. Era sagrado: sempre que eu cruzava a porta e encontrava os olhos azuis que pareciam oceano infinito da minha bisa, ela me abraçava e perguntava se eu estava com fome. Além das balas de funcho no potinho de plástico de tampa amarela, ela me oferecia um “sandviche” – e eu levei algum tempo para pensar em como poderia escrever essa palavra exatamente aqui. Acontece que ela não sabia pronunciar “sanduíche”, mas isso para mim pouco importava. Importante mesmo era que aquele era o melhor lanche do mundo, cheio de toda a maionese e presunto que eu não estava acostumado a comer em casa. Hoje sei que mesmo se tentasse recriar, longe dali nenhum sanduíche conseguiria superar o da minha bisavó.