Gilmar Marcílio
Segue a vida mansa por esse dezembro sem pressa. Não quero entrar em lojas apinhadas de gente para demonstrar um amor que clama por sutilezas, entregas. Evitarei presentes com laços vistosos. Continuarei acordando cedo para ouvir o canto dos pássaros; empenho-me pouco em ter mais tempo para preencher com tarefas. Quero o dia generosamente largo, com horas que se derramam diante de mim sem culpa ou ressentimento. Olharei para as petúnias que desabrocham pela manhã e já ao entardecer se despedem sem resistência. Acompanho seus ciclos e entendo mais sobre nossa condição de fragilidade contemplando a natureza, início e fim que se entrelaçam em cada estação. Bendigo esse calor morno que me faz caminhar a esmo pelas ruazinhas perdidas em busca de um caramujo, uma borboleta, uma vaca pastando no horizonte. Que eu permaneça fiel a esse gosto pela poesia, transmutando o banal numa espécie de mistério que pouco me preocupa decifrar com palavras.
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