Pedro Guerra
Amor foi quando a minha mãe contou que descobriu o que era amor quando o meu pai teve que frear o carro e ele instintivamente esticou o braço na frente dela, que estava ali no banco do passageiro. Mesmo que presa pelo cinto de segurança, ela se sentiu protegida. Amor foi quando eu vi a neve pela primeira vez sem nem saber o que era neve. Amor foi quando eu passei praticamente dois anos sem dormir e os meus pais continuaram ali. Amor foi quando eu berrei e chorei, grudado nas grades da janela da escolinha, e a minha mãe seguiu para o trabalho tendo que ignorar aquela cena – o amor de mãe é desafiador. Amor foi quando eu vi o meu pai chorando pela primeira vez. Amor foi quando eu escrevi diversos poemas cafonas pensando estar vivendo o amor de uma vida inteira (eu tinha 12 anos). Amor foi descobrir que nem sempre a gente vai viver aquilo que quer, na hora que quer, e que está tudo bem mesmo assim. Amor foi entender que a vida é difícil, mas que também pode ser maravilhosa. Amor foi quando me dei conta, de um jeito pleno, sereno e livre de que eu estou vivo. Amor foi transitar entre outros amores. Foi acreditar que era pra sempre, porque a gente tende a validar as coisas (o para sempre também é um prazo). Amor foi naufragar no amor diversas vezes, foi chorar até secar os olhos, foi pensar que estava tudo perdido. Amor foi encontrar o amor outras vezes. Amor foi sentir saudades, foi deixar recado, foi fazer surpresa, foi um abraço quente e foi uma cama dividida. Amor foi aquele livro que eu escrevi para falar de amor. Amor foi tempo, foi investimento, foi esperança e foi espera. Amor foi mensagem de bom dia. Amor foi ir ao cinema sozinho pela primeira vez, amor foi fazer as pazes com o corpo, foi encarar o espelho e conversar sozinho. Amor foi sentir que estamos melhorando – devagar e sempre, como diz alguém que eu não lembro quem, mas tenho certeza que amo. Amor foi se despedir. Amor foi voltar a se ver. Amor foi ter um filho (seja ele qual for), foi plantar uma árvore, foi encontrar uma flor no chão e recolher para presentear alguém que a gente sempre gostou de chamar de amor.
- Mais sobre:
- destaque colunistas
- pedro guerra
- almanaque