Gilmar Marcílio
Ele se aproxima e eu sinto um calafrio na espinha. Ai minhas costas, penso, preocupado com o tamanho da "agressão afetiva" de que serei vítima. O amigo escancara seu melhor sorriso e, ao me abraçar, expressando a saudade que sente, dá um tapa que faz as costelas sofrerem um considerável abalo. Fala um palavrão qualquer e diz que não podemos ficar tanto tempo sem nos ver. Pega nos meus ombros com uma violência moderada e me conta o que tem feito ultimamente. Esta é, em resumo, a maneira calorosa com que a maioria dos representantes do gênero masculino se comunica entre si quando o assunto é a demonstração do carinho que nutrem. É preciso reafirmar, em doses cavalares, a presença da testosterona. Não pode pairar no ar nenhum resquício de doçura, nada que lembre vagamente a presença do desejo amoroso, mesmo aquele que traduz a simples expressão do bem-querer. É assim que os machos se protegem de qualquer insinuação sobre uma possível ambiguidade, resultante dos contatos físicos entre eles. Há que se deixar bem claro que são varões tarimbados. Depois desse pequeno ato de agressividade, afastam-se rapidamente e, a partir desse momento, uma espessa e invisível parede os separará. A voz será o único fio condutor a sinalizar o que os une. Entremeiam o diálogo, de preferência, com algumas expressões chulas, que não viemos ao mundo para nos desmanchar em doçuras e delicadezas.
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