Adriana Antunes
Amo devagar quando o sol desponta quente no verão. O amor ter cinco dedos em cada mão. Fecho os olhos e deixo o calor me beijar. Quantos já enlouqueceram por arderem sem saber? Uma bola de fogo se acende no céu acordando as cortinas e despindo pijamas. Tenho um talento doloroso para sentir. Quem não tem? Sou feita de húmus e silêncios. Carrego buracos e ossos das vezes que chorei. Agora subo os degraus, descalça. Toco na madeira. Sinto o cheiro das flores que desabrocham amaciadas pelo sol matinal. Abro a torneira e mergulho os braços na água que jorra, parindo o oxigênio. Mergulho a cabeça. Deixo os cabelos nadarem em direção a um mar que não me pertence. Um fio de suor desce pelas omoplatas. Sou eu e não sou. Preciso ser?
- Mais sobre:
- adriana antunes
- opinião
- destaque colunistas