Nivaldo Pereira
Antes que o mês de Virgem acabe, me cabe constatar: o que seria de mim, ó céus, sem os virginianos? Neles vejo a graça de servir com generosidade e muito capricho. Com eles, aprendo a olhar tudo com atenção, com foco nas miudezas, buscando ser útil e dar o melhor de mim. Aprendo sobre síntese, ordem interna e disciplina. E ainda uso e abuso dos tantos dons que eles, sem nenhum alarde, adoram disponibilizar. Ah, e agora temos oficialmente uma santa de Virgem, Madre Teresa de Calcutá, cuja vida foi puro serviço e disponibilidade.
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Virginianos me mostram a beleza e a saúde contidas nos pequenos rituais. Como escreveu o virginiano Paulo Leminski: "roupas no varal / deus seja louvado / entre as coisas lavadas". Eles conduzem meu olhar para os detalhes do real, me revelando os mapas da vida. No aparentemente simples e óbvio, descubro as verdades mais profundas, como numa letra do multitalentoso Arnaldo Antunes: "Saiba: todo mundo teve infância / Maomé já foi criança / Arquimedes, Buda, Galileu / E também você e eu".
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Mirem-se nos virginianos aqueles que nunca se contentam com o já pronto. Porque há sempre algo mais a lapidar, a aperfeiçoar, nem que seja para escapar das armadilhas da vaidade. Que o diga o virginiano Michael Jackson, gênio exigente mais atento ao que faltava atingir do que ao já consagrado. Pois é, dos virginianos admiro até certas neuroses, como aquelas torturas mentais que sempre nos incitam a melhorar. Feito os assumidos resmungos do poeta Ferreira Gullar ou a igualmente assumida flor de obsessão que era a cabeça do Nelson Rodrigues. Ou, ainda, as angústias do Caio Fernando Abreu, evocando Camille Claudel e sofrendo com as tantas coisas ausentes que nos atormentam.
É preciso louvar os virginianos, mesmo que eles não lidem bem com elogios: que é isso, não precisa, imagina, é meu dever... Portanto, rogo a Santa Madre Teresa que as inevitáveis culpas lhes sejam leves e que ainda nesta vida convençam-se de que errar é humano. E possam experimentar, um dia, o delicado da vida.
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