Roger Lerina
A falante Fafá de Belém usa poucas palavras para definir seu novo disco em entrevista a Zero Hora: "É Pará na veia". Há 10 anos sem gravar, a cantora mergulhou de cabeça na música popular nortista em Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso, álbum com 10 canções inéditas produzido pela dupla de ouro da guitarrada, do carimbó e do tecnobrega: os músicos Manoel e Felipe Cordeiro, pai e filho.
Leia mais sobre música
Quatro músicas que falam do momento político do Brasil
Documentário sobre Chico Buarque chega aos cinemas
Surgida no cenário da música brasileira em meados dos anos 1970, Fafá destacou-se por conta da voz potente e quente, do repertório com sabor regional - que ia de Norte a Sul, incluindo compositores gaúchos como Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcelos (Cordas de Espinhos e Gaudêncio Sete Luas) - e pela presença exuberante e sensual. Apesar da carreira comercial consolidada, a artista oscilou bastante na avaliação da crítica nessas quatro décadas por conta de trabalhos dedicados ora a estilos mais popularescos, como a canção romântica e o sertanejo, ora a gêneros respeitados, como o fado ou o repertório do CD anterior, Tanto Mar (2005), dedicado a Chico Buarque.
Com Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso, Fafá enfim consegue, aos 59 anos, conjugar essas vocações distintas, mostrando-se à vontade no universo dos ritmos paraenses que hoje estão na moda.
- Eu vinha de discos mais noturnos, mais densos. Há dois anos, fui ao Círio de Nazaré, em Belém, que é uma explosão de "paraeísmo". Escutei lá uma música chamada Meu Coração É Brega e fui tomada por uma emoção incrível, porque me lembrou da menina que saiu do Pará há 40 anos. Quis fazer um disco que assumisse o brega do Pará. Essa música é como a nossa gente, quente, cheirosa, cheia de texturas - explica a intérprete.
Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso começa embalado pelo suingue de surf music de Asfalto Amarelo, cuja letra faz um passeio por nomes de cidades paraenses. Já Volta, do performático cantor e compositor pernambucano Johnny Hooker, é uma descabelada canção brega: "Volta / Que eu perdoo teus caminhos, teus vícios / Que eu volto até o início / Te carregando mais uma vez de volta do bar". Depois da conhecida Ao Pôr do Sol, espécie de hino extraoficial do Pará, Fafá derrama-se no bolero Usei Você, de Sílvio Cesar, originalmente gravada por Ângela Maria.
O disco traz ainda a megabrega Pedra sem Valor, da folclórica paraense Dona Onete ("Por um falso brilhante me deslumbrei / Coloquei na vitrine, valorizei / Foi o meu grande mal / Teu valor era menos de um real"), a lambada Vem que É Bom e as românticas Quem Não te Quer Sou Eu e Os Passa Vida. O CD fecha com o manifesto O Gosto da Vida, de Péricles Cavalcanti, em que Fafá avisa, soltando sua risada gostosa: "Se você quer andar de ré / Não conte comigo".
- O brega do Pará é uma leitura do bolero e da música que tocava nos bordéis. Manoel e Felipe revisitam isso com um toque de modernidade.
- Mais sobre:
- música