Maristela Scheuer Deves
Quais eram os seus sonhos quando você era adolescente? Se você é ao menos um pouquinho parecido(a) comigo - e com a maioria da humanidade -, provavelmente já fez listas e mais listas de objetivos a alcançar, seja para um novo ano que se iniciava ou para o resto da vida. Nessas listas, talvez estivesse uma profissão a seguir, um determinado amor a conquistar, metas grandes como salvar o mundo ou outras menores como ter um bichinho de estimação. E, depois de um tempo, você acabou deixando essas listas (e estes sonhos) de lado. Acertei? Então, a minha dica de leitura desta semana é o divertido A Lista de Brett (Verus Editora, 364 páginas, R$ 35), de Lori Nelson Spielman.
Nesse romance (que poderíamos classificar no gênero chick lit, embora eu não goste muito desse rótulo), encontramos Brett Bohlinger, uma executiva de publicidade que tem um namorado lindo, uma família rica e tudo o que poderia querer da vida. Quando sua mãe morre, porém, além da tristeza ela também tem de enfrentar um outro choque: o cargo de presidente da empresa, que ela esperava ganhar, fica para sua cunhada, e, para completar, sua mãe deixou com o testamenteiro instruções rígidas para que ela só recebesse sua parte na herança após cumprir cada uma das 20 metas de vida que listou aos 14 anos.
Dessas, ela descobre, apenas metade foram cumpridas ao longo dos anos. As outras, acabaram ficando no caminho - como manter uma amizade da infância, se apresentar ao vivo num palco imenso, ajudar os pobres, ter um cavalo e ser uma professora maravilhosa. Até se apaixonar, coisa que ela acha ter conseguido, sua mãe questiona nas cartas que lhe deixou para serem lidas pelo advogado. Nessas cartas, a mãe parece se antecipar a todos os seus argumentos, pois a conhecia tão bem que sabe o quanto ela vai protestar e o que ela vai alegar.
Mesmo contrariada, Brett se vê repentinamente sem casa e sem emprego - o testamento também incluia ordens para que ela fosse demitida da empresa da família e só retornasse à casa sob certas condições. Sem saída, só resta a Brett tentar correr atrás daqueles sonhos que ela sequer se lembrava que tivera, alguns dos quais ela tem certeza de que não quer mais.
Entre tropeços e conquistas, aos poucos Brett vai se redescobrindo, e, ao mesmo tempo, o leitor que acompanha a sua história vai se questionando sobre seus próprios sonhos e suas próprias realizações. Eu estou hoje onde eu queria estar? Sou quem eu queria ser? Se a resposta for não, por que isso aconteceu? E, mais importante: o que eu posso fazer para mudar isso?
Enfim, uma leitura aparentemente leve, mas que, sob esse disfarce, mexe com nossas convicções e certezas.