A pouco mais de cinco meses do início da 31ª Feira do Livro de Caxias do Sul, uma dúvida persiste entre organizadores e público: qual será o palco do maior evento literário da cidade? Após 30 edições na Praça Dante Alighieri, a proposta é mudar a programação, que ocorre em outubro, para o Largo da Estação Férrea, junto à Secretaria Municipal da Cultura. Livreiros e até mesmo alguns ex-patronos, entretanto, opõem-se à ideia da prefeitura.
- Como escritor, sinto que é um erro tirar a feira da praça; como ex-patrono, sinto-me no direito de opinar - resume o escritor Paulo Ribeiro, que foi patrono em 2007.
Ribeiro criou o evento virtual "A Feira é na Praça", que segue até 3 de maio e na tarde deste domingo acumulava mais de 1,3 mil adesões - e mais de 12 mil convidados.
- Foi muito boa a aceitação (do evento virtual). Criou-se uma rede, um vai convidando o outro. Aumenta minuto a minuto - comemora o escritor, que posta na página virtual fotos e memórias da programação.
A intenção, explica, é fazer uma espécie de abaixo-assinado moderno: não haverá concentração real de pessoas na Dante, o que ele pretende é movimentar a comunidade e angariar apoio à manutenção dos livros no Centro. O motivo?
- Ali tem mais fluxo de pessoas, são milhares que passam pela praça no dia a dia. Esse é um público cativo que a feira vai perder, pois na estação não tem esse fluxo; só irá quem sair de casa pensando nisso, perde-se aquele que está passando, vê as bancas, resolve parar e comprar um livro - analisa.
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Os argumentos são semelhantes aos usados pelo presidente da Associação dos Livreiros de Caxias do Sul, Cristiano Bartz Gomes:
- A praça tem acesso fácil e todo mundo sabe onde ela fica. Ali, a feira cumpre um papel social de levar o livro até o leitor, pois muita gente só compra livro durante o evento. Já a estação não é um lugar no qual as pessoas estão costumadas a passar, e muitos sequer sabem onde ela fica - avalia, acrescentando que a manutenção da Feira do Livro na Dante ajuda a evitar o abandono do Centro.
Quem também defende taxativamente a continuidade dos livros no espaço tradicional é o cartunista Carlos Henrique Iotti, que foi patrono em 2013:
- Feira do Livro é na praça. Deixa ali, é uma das coisas que dão certo em Caxias - diz, lembrando que cultura nunca pode ser encarada como um transtorno.
O poeta e editor Marco de Menezes, que apadrinhou o evento em 2011, conta que de início posicionou-se de forma aberta, pois não via problemas na discussão de uma possível mudança. Entretanto, após pensar muito sobre o assunto e conversar com outras pessoas, convenceu-se de que o melhor é manter as coisas como estão:
- A praça ainda é o melhor lugar para feira, pois tem um fluxo maior. É central, o coração da cidade, quem passa ali para ver os livros. E o que se quer é que o livro chegue à população, não a um grupo.
Para o jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst, patrono de 2010, o palco da programação é indiferente:
- A praça tem tradição, a feira nasceu ali, mas tudo muda. Não defendo um local ou outro, mas que a feira sempre cresça e que seja uma propositora da leitura - diz, acrescentando: - Serei um entusiasta eterno da feira, onde quer que ela estiver.
A coordenadora do Departamento do Livro e da Leitura, que organiza a feira, Daniela Ribeiro, salienta que ainda não foi tomada uma decisão definitiva sobre o assunto.
- Faremos uma reunião com os livreiros na primeira semana de maio, após o feriado, e vamos decidir junto com eles. Nesse encontro, apresentaremos estudos das várias secretarias envolvidas, e procuraremos um consenso - explica.
Como um dos pontos fracos da Praça Dante, ela cita o fato de palco, auditório e Leiturário estarem muito próximos, o que dificulta a realização de atividades simultâneas. A necessidade de recolhimento diário do esgoto do Café Cultural também seria um problema, entre outros. Nessa questão, o ex-patrono Paulo Ribeiro contrapõe que o problema de esgoto pode ser maior na estação, uma vez que na praça pelo menos há banheiros públicos.
Já a secretária municipal da Cultura, Rúbia Frizzo, prefere não comentar o assunto, afirmando apenas que respeita todas as opiniões, pró e contra o novo local proposto.