Gilmar Marcílio
A ciência começa a provar o que a intuição já mostrou: evite alimentar-se de notícias ruins. Isso afeta o emocional e diminui a sua imunidade. Muita gente vibra diante de uma tragédia. São incapazes de resistir a qualquer drama do mundo cão. Apresentadores sensacionalistas são seus ídolos e encontram no infortúnio de desconhecidos compensação para uma vida apática. Buscam significar seus dias alimentando-se da dor. Até a pouco me propunha a ouvir relatos do gênero feito por pessoas próximas. Cansei. Interrompo educadamente e pergunto-lhes qual sua leitura do momento, a saúde dos pais, se pretendem continuar naquele emprego chato do qual virou obrigação reclamar. Por ser um estudioso do tema da felicidade, procuro desvios para reconduzir a conversa a patamares minimamente agradáveis. Essa é a verdade: tornou-se um ritual extrair alívio da desgraça do outro – espécie de compensação por termos sido poupados. Como se consegue atrair a atenção para uma realidade amena, longe das histórias com inícios e fins trágicos? Por certo é um fenômeno nascido bem antes da modernidade. Na Idade Média, por exemplo, as praças ficavam lotadas de homens e mulheres ávidos por acompanhar uma guilhotina em ação. Nossa natureza se compraz com sangue.
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