Eliane Marques
Estamos no t=10-43seg da psicanálise, um tempo situado entre os mitos mortos, pois não contados, e o primeiro ou o último mito contado e interpretado, posto no t=0, tempo de fundação. No tempo dos mitos mortos, o assento da cultura não parte do assassinato do pai da horda primitiva como constituinte do sentimento de culpabilidade que engendrará leis simbólicas; o pai já está morto e seu assassinato torna impossível o gozo. Na singularidade amefricana, o crime primordial é o do estupro da mãe (preta). E não afirmo isso numa dimensão sociológica ou histórica, mas numa pergunta sobre o que faz laço social. No sonho freudiano contado, os irmãos mataram quem os queria devorar e estabeleceram leis em comum proibindo a devoração. O banquete totêmico era a única ocasião em que se permitia a quebradura das leis, de modo que o famoso Édipo freudiano e a criança, não apenas a cronológica, alucinam intensamente o gozo.
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