Eduardo Bueno
E se Arthur Rimbaud (1854-1891) não tivesse sido tão assombrosamente belo – não ostentasse aqueles olhos ardentes e etéreos e os lábios cerrados feito enigma? E se Rimbaud não fosse a mais plena encarnação do enfant terrible, exibindo o prontuário de tantas e tais transgressões: fugas de casa incessantes; a disposição irrefreável de encharcar-se em absinto e haxixe, chafurdar na sarjeta, afrontar as regras e se deitar com os amantes só para ser o melhor entre os piores – o poeta maldito por excelência? E se, depois disso tudo, não tivesse Rimbaud desistido de ser Rimbaud tão pouco tempo depois de ter espetacularmente inventado Rimbaud? Se não tivesse calado a voz e partido de vez, carregando – junto às armas que traficava e ao ouro escondido nas vestes – tantas reticências, entrelaçadas na coroa de espinhos duma biografia repleta de perguntas sem respostas?