Cláudia Laitano
Muita gente já observou a curiosa ausência de uma palavra específica que defina a condição de quem perde um filho. Se existem “órfãos” e “viúvos”, pareceria natural que a linguagem cotidiana tivesse produzido uma expressão que desse conta, sozinha, do buraco existencial causado pela morte de um filho. Nem mesmo Shakespeare, que enriqueceu a língua inglesa com mais de 1.700 expressões nunca empregadas antes dele (muitas, mais tarde, traduzidas e adotadas por outros idiomas), foi capaz de inventar uma palavra para embalar o luto de seu único filho homem, Hamnet, que morreu com apenas 11 anos – há quem diga, porém, que o dramaturgo escreveu sua obra-prima mais emblemática, Hamlet, sob o impacto dessa perda.
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